quinta-feira, 16 de julho de 2015

Então eu li: "Capitães da areia"


 Capitães da areia é um clássico da literatura nacional, e é com esse que eu começo uma nova categoria aqui do Blog, que são os "Clássicos da Literatura Nacional"! (dã)
Admito que por muito tempo eu tive esse pré-conceito, mas livros como esse que venho apresentar pra vocês, tiraram esse pensamento retrógrado e tão fechado que eu tinha. Após conhecer essa literatura que começou a me cativar eu fiquei com mais vontade ainda de ler outras histórias clássicas e valorizar essa literatura tão conhecida, porém pouco valorizada. 
O motivo do meu pré-conceito foi o fato de que os primeiros contatos na escola que eu tinha com livros desse gênero não me adquiriram nada, as leituras obrigatórias do meu colégio me deixaram com o pé atrás e eu fiquei sem vontade nenhuma de procurar outros livros com a mesma temática. Porém, foi eu começar com livros de fora que eu fiquei ainda mais animada em trazer essa categoria aqui pro Blog. 
E eu não poderia começar esse projeto com um livro melhor do que Capitães da Areia. O livro do Jorge Amado, escrito na segunda fase do modernismo e trazendo tantas características que te conquistam com o passar da leitura. 
O livro conta a história de um grupo de crianças e jovens órfãos (com idade entre 12 e 16 anos) que vivem na Bahia e não tem para onde ir. Não tem o que comer, o que vestir, não tem onde estudar e garantir um futuro, enfim, não possui nada além da companhia um do outro. O grupo chamado de Capitães da Areia, vivem num velho trapiche na beira da praia e rouba pra se sustentar. Dentre todos os garotos, conhecemos algumas histórias particulares como a do Pedro Bala, líder do grupo com 14 anos, sonha em conhecer outros lugares e se coloca em posição de proteger todos os outros garotos. Conhecemos também o Pirulito, que diante de toda a miséria encontra Deus e ali tem seu ponto de apoio, encontra a paz diante dele e consegue até mesmo ser feliz quando conversa com ele, e com isso é capaz de deixar Sem-Perna com inveja. Sem-Perna, meu personagem preferido, não consegue encontrar felicidade, paz, sossego, e nem mesmo amor em nada. Após ser capturado pela polícia, enviado para o reformatório, mal tratado, judiado, possui ódio de tudo e de todos. Com esse ódio que possui em seu coração faz piada, brinca com os outros, ri dos outros, pensando que assim conseguira disfarçar o rancor que possui la no fundo. 
Uma personagem muito importante também na história é a Dora. Menina que perde a mãe pra a Bexiga, e mesmo com as indicações pra trabalho, não consegue arrumar um emprego, e ela, junto com seu irmão Zé Fuinha, acabam na rua. Quando os Capitães da Areia a encontram, levam-a para o trapiche, o que faz com que a maioria dos meninos a veja como um símbolo sexual e nada mais, apenas ali para satisfazer suas vontades. Acudida por Pedro Bala, Dora e o irmão ficam no trapiche e com o tempo se sentem seguros. 
Dora passa de um objeto sexual para irmã de alguns e muito mais bonito que isso, como mãe. É uma menina doce, carinhosa, que cuida dos meninos, os surpreendem quando mostra que menina também pode ter coragem, e assim ganha a confiança deles. Gostam dela, amam ela, a chamam de mãe. É a nova mãe para todos aqueles meninos desolados, que estavam a procura de carinho, de alguém que cuidasse deles. E nela encontraram todos esses adjetivos. 
Pedro bala ainda, encontrou uma noiva. Descobriram aos poucos a paixão, e ali, deitados na areia, deram-se como noivos. 
É incrível ver os personagens, com suas idades ainda na puberdade, sendo tratados como adultos, ou até mesmo como vermes. É incrível perceber como certas vezes até mesmo eles agem como tal, por precisarem crescer mais do que deveriam, pra conseguir algum sustento e uma pequena melhora de vida. Mas, no fundo, nós percebemos que são apenas crianças, que precisam de carinho, de contato, de amor, e que na verdade, só querem passar um dia brincando de carrossel. 
Logo no começo do livro o coração já pesa. Vale ressaltar que o livro é de 1937 e podemos muito bem ressaltar detalhes e trazê-los para a nossa realidade atual. O que é no mínimo triste. O livro possui partes chocantes, como quando um dos meninos é levado para o reformatório e precisa ficar num lugar que não cabe nem mesmo o próprio corpo, sendo alimentado apenas por feijão bem salgado e um copo de água. Às condições miseráveis nos chocam. 
Jorge Amado consegue, mesmo não sendo tão detalhista, nos comover com poucas palavras, mostrando o profundo de cada personagem. O autor consegue fazer com que a sua narrativa seja até mesmo seca, sem comoção em algumas partes, nos deixando com o coração na mão. A narrativa é leve, por ser um livro modernista, traz muitos detalhes que deixam a leitura bem fluída. A crítica social é incrível, o que faz o livro ganhar nada mais do que cinco estrelas. 
Um ótimo livro, com ótimos quesitos, ótima proposta, ótimo desenvolvimento. Uma leitura essencial pra todos que gostam de um bom livro :)

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